Você tem TDAH ou é apenas ansioso?
O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é considerado um transtorno do neurodesenvolvimento, isso significa que ele afeta o desenvolvimento normal do sistema nervoso central, especialmente em áreas relacionadas à atenção, regulação do comportamento e controle impulsivo (Damasceno, Mazzarino, & Figueiredo, 2022). Sendo assim é uma condição que pode facilmente ser confundida com estados emocionais e comportamentais pontuais, ocasionando na banalização do transtorno (Cunha, 2021, Caliman, 2010).
O TDAH tem suas raízes em diferentes bases neurobiológicas, e estudos sugerem que fatores genéticos podem desempenhar um papel importante na sua origem. As alterações nos neurotransmissores, como dopamina e norepinefrina, são frequentemente associadas ao TDAH (Oliveira, Marinho, & Lemos, 2021). Além disso, há evidências de diferenças na estrutura e função cerebral em pessoas com TDAH em comparação com aquelas sem o transtorno (Szobot, et al., 2001)
Diferente de quadros ansiosos, os quais podem ser vivenciados por meio de variáveis ambientais pontuais, e trazerem consequências emocionais e comportamentais por um período especifico, o TDAH não tem cura, apenas tratamento para redução dos danos e estratégias de enfrentamento dos sintomas (Souza, Pinheiro, & Mattos, 2005). Sabe-se que a ansiedade é o grande mal do século, e em se tratando da população brasileira os índices são cada vez maiores, todavia, se faz de extrema importância a diferenciação do excesso de atividades que por sua vez ocasionam na falta ou redução de atenção, de um quadro neuropsiquiátrico.
Os sintomas do TDAH geralmente aparecem na infância, e a condição pode persistir com mesma intensidade na adolescência e na idade adulta. Contudo destaca-se o grande número de pacientes adolescentes e adultos sendo diagnosticados tardiamente, levando a crer que em seu histórico de vida houve sofrimento por parte do não diagnóstico e pelas consequências da ausência de tratamento, refletidas muitas vezes e com alta incidência nos estudos e concentração acadêmica (Oliveira, 2022; Abrahão & Elias, 2021). A natureza neurobiológica do TDAH destaca a importância de abordagens terapêuticas que consideram as bases biológicas subjacentes, incluindo intervenções farmacológicas – quando necessário- e terapias comportamentais. O entendimento do TDAH como um transtorno do neurodesenvolvimento ajuda a moldar estratégias de diagnóstico e tratamento mais direcionados para a particularidade de cada indivíduo.
Referências
Abrahão, A. L. B., & Elias, L. C. D. S. (2021). Estudantes com TDAH: Habilidades Sociais, Problemas Comportamentais, Desempenho Acadêmico e Recursos Familiares. Psico-USF, 26, 545-557.
Caliman, L. V. (2010). Notas sobre a história oficial do transtorno do déficit de atenção/hiperatividade TDAH. Psicologia: ciência e profissão, 30, 46-61.
Cunha, M. (2021). Uma banalidade do mal psicofarmacológico em tempos de performance. Psicologia da USP , 32 .
Damasceno, M. M. S., Mazzarino, J. M., & Figueiredo, A. (2022). Interferências Da Natureza no Comportamento De Crianças Com TDAH: Estudo De Caso No Nordeste Brasileiro. Ambiente & Sociedade, 25.
Oliveira, M. L. T. (2022). Os impactos dos sintomas do TDAH no adulto. Rebena-Revista Brasileira de Ensino e Aprendizagem, 4, 26-46.
Oliveira, M. D. S, Marinho, M. F. D, & Lemos, S. M. A (2021). Características clínicas do transtorno de déficit de atenção em crianças e adolescentes: associação com qualidade de vida e aspectos comportamentais. Revista Paulista de Pediatria , 40 .
Souza, I., Pinheiro, M. A., & Mattos, P. (2005). Anxiety disorders in an attention-deficit/hyperactivity disorder clinical sample. Arquivos de neuro-psiquiatria, 63, 407-409.
Szobot, C. M., Eizirik, M., da Cunha, R. D., Langleben, D., & Rohde, L. A. (2001). Neuroimagem no transtorno de déficit de atenção/hiperatividade. Brazilian Journal of Psychiatry, 23, 32-35.