Capacitismo: da compreensão do termo ao combate
O termo “capacitismo” tem ganhado destaque nos meios midiáticos nos últimos tempos, contudo, embora com ampla divulgação, tal como propagação da expressão em diversos contextos, o significado desse termo ainda gera dúvidas e por vezes desconhecimento a muitas pessoas (Marchesan & Carpenedo, 2021). Porém, é importante em primeira instância, ter conhecimento sobre algumas atualizações de termos e nomenclaturas que devem ser utilizadas e substituídas.
Ao referirmo-nos a pessoas com deficiência, muitos foram os termos utilizados para identificá-los, contudo, é de extrema importância atentar-nos às atualizações dos mesmos. Antigamente, nos referíamos a uma pessoa com deficiência utilizando o termo “pessoa com necessidade especial” ou ainda “portador de necessidades especiais”, tais colocações estão desatualizadas e não correspondem ao que hoje acreditamos como uma definição respeitosa e não capacitista. Da mesma forma outros termos que foram em outrora utilizados, não cabem mais, isso se dá ao fato não somente de uma atualização periódica, mas a averiguação de que tais termos e definições limitavam a pessoa com deficiência apenas a sua deficiência, não validando-o como um indivíduo que comporta normalmente todas as potencialidades, como qualquer outra pessoa. Exemplos de termos que foram atualizados: “cadeirante” não se utiliza mais, e sim usuário de cadeira de rodas, “portador de retardo mental” ou “deficiente mental” não são mais utilizados, alterando para pessoa com deficiência intelectual.
Somente após tal compreensão prévia sobre conceitos e termos relacionados à deficiência, podemos pensar melhor sobre o capacitismo. Capacitismo é a leitura que se faz sobre pessoas com deficiência, assumindo que a condição corporal destas é algo que as define como menos capazes (Vendramin, 2019). Podendo também, o termo, ser compreendido como uma atitude que discrimina e traz preconceitos por meio de expressões pejorativas que colocam as pessoas com deficiência como incapazes e inferiores, contribuindo a desigualdade social e ao preconceito.
Diferentemente do modelo exemplificado anteriormente, ao qual determinadas definições foram alteradas pelo reconhecimento que as mesmas traziam significados e conotações de redução da pessoa com deficiência, os termos capacitistas nunca existiram e foram substituídos, tais termos, vistos por alguns como utilizados de forma “inocente” e “sem maldade”, porém, sempre atribuindo rótulos negativos as pessoas com deficiência, foram e ainda são utilizados, tais como “retardado”, “inválido”, além de expressões usadas cotidianamente por muitos como “que mancada!”, “não se faça de surdo”, entre outras muitas que poderíamos citar.
Além do conhecimento sobre os temas aqui abordados, ressalta-se a necessidade de nos policiarmos e aos que estejam perto de nós para retirar de nossos vocabulários termos e expressões capacitistas, como as citadas anteriormente, pois somente dessa forma poderemos contribuir para uma sociedade anticapacitista, que prega por valores de igualdade, redução de preconceitos, ética e justiça social (Santos, Kabengele & Monteiro, 2022; Santos, 2021; Guesser, Böck & Lopes, 2020).
Referências:
Guesser, M., Böck, G. L. K., & Lopes, P. H. (2020). Estudos da deficiência. Curitiba: anticapacitismo e emancipação social. CRV editora.
Marchesan, A., & Carpenedo, R. F. (2021). Capacitismo: entre a designação e a significação da pessoa com deficiência. Revista Trama, 17(40).
Santos, L. S. D. (2021). Anticapacitismo e participação política de pessoas com deficiência intelectual: dimensão educativa de movimentos de autodefensoria (Doctoral dissertation, Universidade de São Paulo).
Santos, S. C. D., Kabengele, D. D. C., & Monteiro, L. M. (2022). Necropolítica e crítica interseccional ao capacitismo: um estudo comparativo da convenção dos direitos das pessoas com deficiência e do estatuto das pessoas com deficiência. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, 158-170.
Vendramin, C. (2019). Repensando mitos contemporâneos: o capacitismo. Simpósio Internacional Repensando Mitos Contemporâneos.