Os benefícios da atividade física no Transtorno do Espectro Autista
Quando falamos a respeito de atividade física, infelizmente vemos que
pessoas dentro do espectro do autismo tem um estilo de vida muito mais
sedentário, um elevado risco de obesidade e de todas as doenças relacionadas
a ela (1). De fato, quando se fala em obesidade, os estudos apontam que mais
de 30% das crianças com TEA apresentam sobrepeso, um número muito maior
quando comprada as crianças neurotípicas.
Todos nós sabemos que a prática de atividade física regular contribui
positivamente para a redução do risco de doenças cardiovasculares, da
incidência de diabetes, reduz a pressão sanguínea além de contribuir para o
aumento da densidade óssea (2).
No TEA, os benefícios da atividade física vão muito além! Em relação
aos aspectos sociais, 4 estudos evidenciam que a prática de esportes coletivos
pode promover uma melhora na qualidade dos relacionamentos, maior empatia
e aumento nos níveis de convivência social (3-6).
Outro benefício encontrado com a prática regular de atividade física é a
redução de movimentos repetitivos e estereotipados. Mesmo apenas 10
minutos de atividade física de baixa intensidade já é suficiente para reduzir
significativamente as ecolalias e os movimentos estereotipados manuais como
flapping, ainda que esse efeito seja temporário (7).
Finalmente, os dados apontam ainda que a atividade física promove
melhora na atenção, no rendimento acadêmico e na autoconfiança das
crianças com TEA (2).
Apesar de extremamente promissor, a atividade física em crianças com
TEA possui alguns obstáculos a serem vencidos. Cerca de 79% das pessoas
com autismo apresentam dificuldades na coordenação e no desenvolvimento
motor que dificultam até mesmo a realização de atividades da vida diária (8). A
boa notícia é que quanto mais cedo os estímulos motores e a prática regular de
atividade física for instituída, melhora o desenvolvimento da coordenação
motora, da consciência corporal, da independência e até mesmo das
habilidades cognitivas (2).
Mas qual atividade física seria melhor? Estudos apontam que atividades
aeróbicas teriam um melhor efeito sobre as estereotipias e sobre os
comportamentos auto-agressivos. Além disso, outras atividade estudadas e
que demonstraram benefícios foram: natação e atividades aquáticas e
atividades com cavalo (equoterapia ou mesmo cavalgada) (2).
Como sempre, quando se trata do transtorno do espectro autista, é
importante enfatizar que não existe uma atividade física ou esportiva ideal para
o autismo e que uma mesma atividade pode gerar resultados diferentes em
cada criança. Assim, é sempre importante uma avaliação individualizada
levando-se em conta as características clínicas de cada criança e os objetivos
pretendidos.
*Texto produzido em parceria com o Médico Neuropediatra e Mestre em Neurologia e Neurociências Dr. Jaime Linn
Referências:
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- Aniszewski E, Alvernaz A. Physical activity autistic children. American Journal of Physical Medicine & Rehabilitation. 2020;5:79-80.
- Lopez-Diaz JM, Felgueras Custodio N, Garrote Camarena I. Football as an Alternative to Work on the Development of Social Skills in Children with Autism Spectrum Disorder with Level 1. Behav Sci (Basel). 2021;11(11).
- Vetri L, Roccella M. On the Playing Field to Improve: A Goal for Autism. Medicina (Kaunas). 2020;56(11).
- Yu CCW, Wong SWL, Lo FSF, So RCH, Chan DFY. Study protocol: a randomized controlled trial study on the effect of a game-based exercise training program on promoting physical fitness and mental health in children with autism spectrum disorder. BMC Psychiatry. 2018;18(1):56.
- Aguiar RP, Pereira FS, Bauman CD. Importância da prática de atividade física para as pessoas com autismo. J Health Biol Sci 2017;5(2):178-83.
- Ferreira JP, Ghiarone T, Junior CRC, Furtado GE, Carvalho HM, Rodrigues AM, et al. Effects of Physical Exercise on the Stereotyped Behavior of Children with Autism Spectrum Disorders. Medicina (Kaunas). 2019;55(10).
- Soares A, Cavalcante Neto J. Avaliação do Comportamento Motor em Crianças com Transtorno do Espectro do Autismo: uma Revisão Sistemática. Revista Brasileira de Educação Especial. 2015;21:445-58.