A eficácia da música como recurso terapêutico para pessoas com autismo
As intervenções destinadas à melhoria de determinados padrões de comportamentos de pessoas diagnosticadas com TEA contemplam uma vasta dimensão. A intervenção ABA aplicada ao autismo é amplamente estudada, discutida e aplicada por seu alto registro de resultados satisfatórios quanto a modificação de comportamentos disfuncionais. Todavia, há outras modalidades, que são complementares a atuação de psicólogos, fonoaudiólogos, pedagogos, entre outros profissionais que integram a equipe multidisciplinar, como por exemplo a musicoterapia (Geretsegger et al., 2022).
A musicoterapia tem sido uma das modalidades terapêuticas mais utilizadas no processo de intervenção e tratamento de pessoas com TEA, visando o estímulo e a melhora em várias áreas de desenvolvimento (Brandalise, 2013; LaGasse, 2017). De acordo com Moreira, Alcântara-Silva e Moreira (2012) estudos baseados na reabilitação neurológica indicam que componentes da música como ritmo, melodia, harmonia, timbre, forma e dinâmica podem estimular processos cognitivos, sensório motores e afetivos complexos no cérebro, modulando alterações comportamentais.
A musicoterapia usa as experiências musicais e as relações que se desenvolvem através delas para permitir a comunicação e a expressão, buscando dessa forma alcançar alguns dos problemas centrais e comummente apresentados nas pessoas autistas a fim de sequencialmente trazer a regulação emocional e comportamental através da música (Geretsegger et al., 2022; Wagener, 2021; LaGasse, 2017). Benefícios comprovados da música como recurso terapêutico para pessoas no espectro atingem também melhorias nas capacidades física, emocional e escolar (Araújo, Soludade, Leite, 2018).
A pesquisa de Freire (2014) indicou, a partir de um estudo quantitativo, que a musicoterapia pode trazer efeitos positivos para crianças com TEA, além de promover o desenvolvimento de comunicação e socialização. O estudo ainda apontou como hipótese que tal modalidade ainda contribui para melhorias nos quadros de estresse e depressão dos pais.
Ressalte-se, todavia, que a aplicação da musicoterapia requer formação académica e clínica especializada que permita aos terapeutas adequar a intervenção às necessidades específicas do indivíduo (Geretsegger et al., 2022; LaGasse, 2017).
Referências
Araújo, N. A.; Solidade, D.S.; Leite, T.S.A. A musicoterapia no tratamento de crianças com autismo: revisão integrativa. ReonFacema. Abr-Jun; 4(2):1102-1106. 2018
Brandalise, A. (2013). MUSICOTERAPIA APLICADA À PESSOA COM TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO (TEA): UMA REVISÃO SISTEMÁTICA. Brazilian Journal of Music Therapy, (15).
Freire, M. Efeitos da Musicoterapia Improvisacional no tratamento de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo. Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Neurociências da Universidade Federal de Minas Gerais – Belo Horizonte, 2014.
Geretsegger, M., Fusar-Poli, L., Elefant, C., Mössler, K. A., Vitale, G., & Gold, C. (2022). Music therapy for autistic people. The Cochrane database of systematic reviews, 5(5), CD004381. https://doi.org/10.1002/14651858.CD004381.pub4
LaGasse A. B. (2017). Social outcomes in children with autism spectrum disorder: a review of music therapy outcomes. Patient related outcome measures, 8, 23–32. https://doi.org/10.2147/PROM.S106267
Moreira S, Alcântara-Silva T, Silva D, Moreira M. Neuromusicoterapia no Brasil: Aspectos Terapêuticos na Reabilitação Neurológica. Rev. Bras. Musicoterapia, n. 12 pág. 18-26, 2012.
Wagener, G. L., Berning, M., Costa, A. P., Steffgen, G., & Melzer, A. (2021). Effects of Emotional Music on Facial Emotion Recognition in Children with Autism Spectrum Disorder (ASD). Journal of autism and developmental disorders, 51(9), 3256–3265. https://doi.org/10.1007/s10803-020-04781-0